segunda-feira, 22 de maio de 2017

Objetividade subjetiva

Certa vez, em exercício escolar, havia uma questão que perguntava se uma foto refletia uma imagem objetiva ou subjetiva. Naquele momento respondi, inocente e precipitadamente (ou inexperiente o suficiente para entendê-la), como “objetiva”...

Quão tolo fui, ao imaginar literalmente que tinha a ver com a lente objetiva da máquina fotográfica. Pois bem, a resposta correta era, naquele momento, subjetiva

E o real porquê disso tudo me fez refletir por muito tempo... “por quê uma foto refletiria algo subjetivo e não objetivo? ”, algo que mostrava o “objeto” daquele momento registrado na foto. Além disso, afinal de contas, uma foto era algo simples para mim, só um objeto. Pode-se fazer da foto qualquer tipo de imagem... algo alegre, algo triste, algo apático, algo contemplativo... “simplesmente”, repito, um objeto, um registro de um momento.

Demorou um tempo até que eu entendesse que aquela imagem registrada na foto representava algo realmente subjetivo, no sentido da palavra, de ser algo que era particular para cada um. Algo que fazia parte do sujeito. Cada um vê uma imagem de um modo, sob uma própria perspectiva. Era justamente a liberdade de alguns poderem tirar daquele objeto a imagem que melhor lhes “agradava”: ou alegre, ou uma memória triste, ou apenas uma decoração...

Afinal, existe algo mais “subjetivo” do que a capacidade e liberdade de enxergar a partir da ótica do próprio sujeito, a representação (ou interpretação) de algo em particular?

Os argumentos que se sustentavam como justificava antes, para mim, que a fotografia era apenas um “objeto” que refletia algo triste ou alegre, ou lembranças boas ou ruins..., que isto seria apenas um objeto, são os mesmos argumentos que me fizeram entender, depois de algum tempo, que a realidade apenas correspondia à visão de quem a olhava, sendo, então, subjetivo.

Ainda sobre isso: o sorriso em uma fotografia, este não retrata exatamente a felicidade. Pode ser apenas uma “pose para a foto”, um “xis”. Não mostra a alegria ou felicidade interior da pessoa fotografada. Fotos de imagens, sem pessoas, podem falar muito mais do que mil palavras ou sorrisos. Ou muito mais tristeza do que muitos choros e lágrimas.

Mas o que dizer disso tudo? Como concluir essa questão?

Hoje vejo que a felicidade ou tristeza, ou mesmo a profundidade e importância de uma imagem registrada através de uma objetiva de máquina ou aparelho fotográfico importa às vezes muito mais (ou simplesmente) para quem a vê -tendo participado ou não daquela imagem-, do modo e do momento do registro “do objeto”.

Citando Exupéry, “o importante é invisível aos olhos”. A felicidade ou tristeza está dentro de cada um. Um sorriso é falso ou real dependendo de quem o vê, e bem mais -evidentemente- para quem sorriu ou chorou antes, durante ou depois da foto, da imagem. Ou seja, tudo se trata e depende da imagem, representação e interpretação do objeto que nos dispomos a nos tornar.

Alegria ou tristeza estão dentro de cada um e não podem sempre ser determinadas ou extraídas por uma imagem “exterior”, apesar de assim o serem. Muitos sorrisos, por exemplo, podem ser tristezas reprimidas; máscaras usadas para impressionar, ou mesmo para não chocar, quem as vê. Queremos sempre impressionar com o exterior, oprimindo e reprimindo assim, o real interior.


Esperamos cada vez mais ansiosos pela aprovação daqueles que nos veem, “na realidade”, como objeto decorativo. Estamos sempre na tentativa de sermos aceitos como uma imagem que pode ser vista e contemplada como bela e satisfatória aos olhos dos outros, mesmo que em detrimento ao que temos, somos e representamos por dentro: a realidade objetiva. Objeto este que, em grande parte, se sobrepõe -talvez por completo- ao real sujeito que somos.


Flávio Augusto Albuquerque


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