terça-feira, 28 de junho de 2016

"Feliste"

Ele era assim: Um cara legal, inteligente, divertido e sempre com um sorriso amigo no rosto. Simpático e empático com aqueles que o rodeavam, tinha uma energia boa de sentir e que dava vontade de dividir e multiplicar essa sensação de estar junto dele, com ele.

Sempre que perguntavam como ele estava, respondia "estou". Isso parecia tolo e vago aos ouvidos desatentos, mas era a melhor e mais exata resposta que ele poderia dar. Ele estava! Estar é diferente de ser. "Estar" é momentâneo. "Ser" cheira a perpetuidade. E ele era assim... um constante estar! Estados diferentes... de humor, de sensações, de sentimentos... e às vezes ele estava igual! Apenas estava...

...E foi distraído entre diferentes estados que, desatento, se viu repentinamente corado e com coração acelerado, frio na barriga... Tudo isto ao mesmo tempo. Este era um sentimento novo de novo para ele! E estava sempre atrelado à uma presença específica, a um alguém!

Ser flagrado por si próprio gostando, de modo especial, de outra pessoa, o fez rever e repensar muitos conceitos firmados com o passar dos anos, inclusive o próprio conceito de gostar, de admirar alguém ao longe, por mais próximos que estivessem. Foi do real, do sólido e firmado, para o quase platônico. Sua paixão, presença silenciosa na maioria das vezes, o inquietava a tal ponto de não saber ele mesmo o que fazer. Que atitude tomar? Tantas idas e vindas já havia contado no corredor, tantas tentativas de contato e "bons dias" dedicados, sem o retorno esperado... Tantos "nãos" silenciosos!... Estava cego e não via que era ignorado, ou estaria exagerando? Mantém-se a dúvida.

Sua maior frustração era a de não ter a chance de se fazer conhecer e de mostrar quem era realmente. Era de não poder dizer "sou" ao invés de "estou". Era o de não ter a chance de mostrar o seu ser mais perpétuo, a sua essência. Viu-se vítima do constante "estou" e não conseguia mais "ser". Foi obrigado a desistir sem ter a chance de arriscar, de tentar.

Agora, quando perguntado como estava, respondia diferente de antes! Agora dizia "feliste"! E era obrigado a explicar o neologismo toda vez: estava "feliz" com "triste" numa mesma intensidade, num mesmo momento. Preso entre estes dois sentimentos. Era difícil explicar! Ficava feliz ao ver sua paixão mas, ao mesmo tempo, triste em apenas ver, sem poder tocar sua face e sentir sua respiração, sem acariciar-lhe o rosto, sem beijar seus lábios vermelhos...

Conflitavam-se dentro dele o seu yin e o yang, ao mesmo tempo que se harmonizavam! Sim, estava "feliste"! Era como se definia! Loucura? Bobagem? Talvez. Havia preferido já há muito tempo não sentir nada a arriscar sentir dor! Porém, não é fácil ser humano. Agora apenas quer virar a página, mesmo que nela esteja um marcador. Não quer esperança, quer superação!

Por ora, "feliste" é como ele segue... é como ele está! Até algum dia.


Flávio Augusto Albuquerque