sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Último Suspiro...

A respiração rápida, entrecortada.

A cabeça erguida em busca de ar.

Sábia natureza que nos ensina a erguer a traqueia para liberar a passagem do oxigênio.
Aos poucos foi parando... Acalmando ou definhando, em busca do último suspiro. A última arfada da noite!

Meia-noite e um... Novo dia. A luta continua e o desespero aumenta. Já não sei pelo que rogar. Descanso eterno ou respiração estável? A essa altura os milagres já não enriquecem a fé nem fervem o peito na busca da cura. Agora é apenas o "não-tão-ruim" ou o "menos pior"!

O ferimento estancou. O branco do osso aparente, agora está cheio de pontos, gaze e faixas. O rosto, irreconhecível. A família lá fora não tem noção exata do que passa aqui. Médicos e enfermeiros poupam os detalhes acreditando ser melhor. Inútil! Cedo ou tarde saberão da gravidade, do real estado.

Nessas horas o tempo passa rápido quando se tenta não pensar no pior, e caminha a passos lentos quando se espera uma melhora. São momentos de pura aflição. Ninguém entra... ninguém sai. Apenas os médicos e enfermeiros têm autorização para estar aqui dentro.

Tubos, cânulas, soros, monitoram os sinais vitais, trocam de turnos, verificam nível de oxigênio, medem pressão, medem temperatura, testam os reflexos... Ainda sem reação das pupilas à luz... As horas se passam, os turnos se revezam, mas a única alteração de verdade é o ‘tic-tac’ do relógio... A hora está chegando.

Não! Não agora! Não ainda! Eu não quero ir! O ar está se esvaindo como areia nas mãos de uma criança...  Eu sou uma criança! É injusto comigo! Mas o que seria justo? Ficar neste mundo cruel, egoísta, violento, corrupto... É... Acho que é justo sim que eu vá! Já não me importo mais com os médicos, enfermeiros, e todos no quarto. Quero apenas dar um beijo nos meus pais e ir... Seguirei andando até onde tiver luz. Lá finalmente encontrarei paz, e toda dor terá fim!
  

Flávio Augusto Albuquerque