quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Eu gosto é do estalido!

Eu gosto é do estalido!
O estalido do beijo apaixonado,
O beijo cedido ou roubado,
Bem debaixo dos lençóis ou em cima deles,
A posição não importa quando os corpos estão enlaçados,
Envoltos de suor e prazer.
Puro sabor!

Eu gosto é do estalido!
O estalido da brasa do cigarro,
Que queima no cinzeiro,
Enquanto descansas sobre meu peito,
Intercalando a respiração entre beijos,
Beijos estalados.
Puro calor!

Eu gosto é do estalido!
O estalido dos dedos que me chamam,
Com pressa de me ver chegar,
Com pressa de me ter pra si,
Com pressa de me ter.
Puro amor!

Eu gosto é do estalido!
O estalido das línguas que se enroscam,
Dos corpos que se pegam,
Dos abraços que se esquentam,
Do amor que desliza e atrita.
Puro tremor!

Eu gosto é do estalido!
O estalido da cama,
A cama brava, que sustenta nossos corpos,
Corpos novamente lavados, suados,
Embebidos em sabor, em calor, em amor, em tremor!


Eu gosto é do estalido!
...


Flávio Augusto Albuquerque

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O dia em que a cigana leu minha mão

Com dentes de ouro e buço aparente,
Agarrou minha mão e puxou-me para um canto.
Sua saia longa tocava o chão. O falar era rápido, quase não se fazia entender.
Com jeito convincente olhava a minha palma e dizia decifrar os meus longos anos à frente.

Através das rugas e linhas da minha mão resistente, passavam seus dedos enrugados. Falava como se enxergasse o mistério além dali.
De nada adiantou minha relutância em "entregar a sorte ao oráculo". Sua firmeza e convicção em ater-me sob suas garras era segura.

Disse-me coisas que, com certeza, nenhum deus duvidaria, tão óbvias eram. Por mais que floreadas e ritmadas fossem suas palavras, seu objetivo era ardiloso: fazer de mim mais um tolo dislumbrado com o agradável futuro.

Pois bem, iniciou sua cantoria a velha cigana, esperta como tantas dizendo o óbvio em tom de suspense.
Disse que em minha vida teria uma morena e uma loira, e saltou ansiosa para a pergunta, querendo saber se estava indo pelo caminho certo: "Já tens uma dessas?". Ora, qual o quê: grande descoberta fez! Ao considerar que as ruivas, apesar de não menos belas, estão em bem menor proporção do que as loiras e morenas, suas chances de acerto seriam assim rudimente maiores!

Seguiu adiante, "revelando-me" a minha natureza trabalhadora. Garoto esforçado, porém não era prendado de sorte no labor! Ora, mais uma vez aqui deixa clara sua arte, pois quem hoje em dia não se considera um trabalhador injustiçado pela política e pela exploração do mercado e da economia em que vive o país? Grande adivinha!
E mais: completou que via em minha vida "grande vitória, e que a felicidade seria alcançada...", mas que "e-vidente"! Qual ser humano, por mais infeliz que acredite ser, não espera ouvir de quem quer que seja, que seu futuro reserva-lhe "A felicidade"? Este é ou não é, senão, o "Princípio básico da esperança"?!

E, para finalizar com chave de ouro, ouro de tolo, disse-me que eu era um rapaz que não tinha sorte nas amizades, que sofreu muito, mas que era protegido por uma "luz muito bonita" e que seria muito feliz na vida, e que tudo isso não demoraria a acontecer...!
E que, é claro, um agrado à sua "quiromancia clarividente" seria muito bem vinda!

Ou seja: com as palavras certas para o otário perfeito, toda desgraça vira sorte nas mãos de quem sabe manipulá-la!

Pobre cigana... desta vez erraste o alvo!


Flávio Albuquerque