segunda-feira, 7 de abril de 2014

Na calada da noite.

É na calada da noite onde tudo acontece.

Enquanto todos dormem, fico remoendo na cama.
Troco de lençol, mudo a fronha, largo o travesseiro,
Jogo o travesseiro para os pés, depois volto a agarrá-lo.
Tudo isso na calada da noite.

Enquanto tento contar meu rebelde rebanho de ovelhas,
Ouço o ressonar dos que dormem. Ah quanta inveja...
Distraio-me meio minuto e lá se vão mais 5 ovelhas perdidas,
Perco as contas e a contagem recomeça, na calada da noite.

cri-cri dos grilos na minha cabeça, que repetem e repetem,
Do início do dia até quando anoitece.
Eles não param, a vida não para: problemas, soluções, problemas sem soluções...
Do barulho da manhã... até a calada da noite.

Passa o dia, entra a tarde, e mais algumas horas... lá vem ela: a noite!
Mas a culpa não é dela. Não! Ela não tem culpa.
A noite é apenas... a noite. É o fim do dia, início de um novo amanhecer.
Os problemas sim. Esses persistem. Persistem como o ruído dos grilos.
Os grilos, que não saem da cabeça. Mais barulhentos que grilos falantes!
Mas eles falam! Eu os ouço. Ouço sim...
Mas os ouço melhor na calada da noite!

A noite é benevolente com aqueles que dormem,
E cruel com os insones! Passa rápido quando fechamos os olhos...
Mas tem a capacidade de ser eterna para aqueles que, como eu,
Contam o tic-tac do relógio... Angústia a cada minuto que passa.
É o presságio de um dia perdido.
Se não bastasse a noite perdida, ela carrega o dia consigo.
O cansaço preso no corpo como um sanguessuga,
Sugando sua vida, sua felicidade, sua disposição, sua vitalidade.
E tudo isso acontece por causa da calada da noite...

Calada da noite barulhenta,
Gritando aos ouvidos os afazeres do dia seguinte,
Quase faz desdém daquilo que perdemos enquanto estamos acordados.
Os barulhos não cessam... Aumentam!
Aumentam até tornarem-se gritos...
Gritos de desespero dentro da minha cabeça.
Gritos... Gritos...

Gritos na calada da noite!


Flávio Augusto Albuquerque