É na calada da noite onde tudo acontece.
Enquanto todos dormem, fico remoendo na
cama.
Troco de lençol, mudo a fronha, largo o
travesseiro,
Jogo o travesseiro para os pés, depois
volto a agarrá-lo.
Tudo isso na calada da noite.
Enquanto tento contar meu rebelde rebanho
de ovelhas,
Ouço o ressonar dos que dormem. Ah quanta
inveja...
Distraio-me meio minuto e lá se vão mais 5
ovelhas perdidas,
Perco as contas e a contagem recomeça, na
calada da noite.
O cri-cri dos grilos na
minha cabeça, que repetem e repetem,
Do início do dia até quando anoitece.
Eles não param, a vida não para:
problemas, soluções, problemas sem soluções...
Do barulho da manhã... até a calada da
noite.
Passa o dia, entra a tarde, e mais algumas
horas... lá vem ela: a noite!
Mas a culpa não é dela. Não! Ela não tem
culpa.
A noite é apenas... a noite. É o fim do
dia, início de um novo amanhecer.
Os problemas sim. Esses persistem.
Persistem como o ruído dos grilos.
Os grilos, que não saem da cabeça. Mais
barulhentos que grilos falantes!
Mas eles falam! Eu os ouço. Ouço sim...
Mas os ouço melhor na calada da noite!
A noite é benevolente com aqueles que
dormem,
E cruel com os insones! Passa rápido
quando fechamos os olhos...
Mas tem a capacidade de ser eterna para
aqueles que, como eu,
Contam o tic-tac do
relógio... Angústia a cada minuto que passa.
É o presságio de um dia perdido.
Se não bastasse a noite perdida, ela
carrega o dia consigo.
O cansaço preso no corpo como um
sanguessuga,
Sugando sua vida, sua felicidade, sua
disposição, sua vitalidade.
E tudo isso acontece por causa da calada
da noite...
Calada da noite barulhenta,
Gritando aos ouvidos os afazeres do dia
seguinte,
Quase faz desdém daquilo que perdemos
enquanto estamos acordados.
Os barulhos não cessam... Aumentam!
Aumentam até tornarem-se gritos...
Gritos de desespero dentro da minha
cabeça.
Gritos... Gritos...
Gritos na calada da noite!